Bullying, depressão e transtornos psicológicos – Parte III

Antes que você me julgue uma adolescente ”de tumblr”, eu te digo, eu tenho uma doença. Demorou muito tempo, mas eu descobri! Depois de passar por uma psiquiatra, que falava que eu tinha tudo, eu encontrei o psiquiatra adequado, e continuei frequentando a terapeuta que eu ia há um tempo. E foi ela que me diagnosticou primeiro. Além das coisas mais conhecidas como automutilação (esqueci o termo técnico) e anorexia nervosa, eu fui diagnosticada com transtorno de personalidade Borderline. 

O que é Borderline?

Meu bem, ninguém sabe! Borderline não é uma doença comum, é a coisa mais complexa e difícil de ser entendida que existe! E depois que fui diagnosticada, googlei muito, li muito, pesquisei muito, mas existe muita pouca informação para nós, porque é uma doença relativamente nova. Mas vamos lá, vou dizer o que eu sei.

Borderline é também conhecida como personalidade limítrofe, porque os borders estão sempre no limite. Essa doença é facilmente confundida com transtorno bipolar, porque também há muita variação de humor. Mas o que difere da bipolaridade é que enquanto os bipolares tem fases de mania (muita felicidade) e de depressão, de, por exemplo, semanas ou até meses, os borders mudam de humor em um dia, uma hora e etc.

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As principais característica do Borderline são:

(1) a impulsividade, agindo muitas vezes sem pensar e depois se arrependendo muito. (2) A sensação de abandono, que causa nele uma dor insuportável. Esse abandono pode ser imaginário, pode ser uma besteira, um olhar que ele interpretou de forma diferente, mas ele vai sofrer do mesmo jeito. (3) A raiva é sempre presente nos Borderlines, é uma raiva inapropriada e exagerada que ele não sabe expressar e acaba, cedo ou tarde, explodindo. (4) Comportamento suicida ou automutilação. O doente sente muita dor, uma dor impossível de ser explicada, e a única forma que ele vê de acabar com ela, é destruir a si mesmo. A dor causada pela automutilação é sentida como um alívio para muitas situações de raiva, ou de desesperança, ou até mesmo para sentir que está vivo. (5) Muitos borders tem uma sensações de vazio interior muito grande. (6) O Borderline muda de humor muito facilmente e tem afetos instáveis. (7) Perturbação de Identidade. O Borderline, em alguns casos, não sabe quem realmente é, que objetivos tem, só vive por viver, sem esperança. Não acredita em si mesmo e tem medo do seu próprio eu. Muitas vezes, os borders sugam a personalidade de pessoas que admiram para si, adotam os mesmos comportamentos, e etc. Isso pode ser um problema se a pessoa que eles admiram for viciada em drogas, ou algo do tipo, porque eles irão repetir o comportamento sem nenhum tipo de questionamento. (8) Os relacionamentos são intensos e instáveis. O Borderline não consegue ser neutro, ele possui sentimentos extremos, ou de amor ou de ódio.

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Bom, essas são as principais características e sintomas. Lembrando que 8 em 10 Borderlines cometem suicídio, porque é a doença da dor, então se você se identificou com algum item, procure ajuda profissional, não tenha vergonha. Eu, como border, já sou uma vencedora por ainda estar viva e lutando para me manter assim, e realmente espero que a minha experiência lhes seja útil, e possa ajuda-los de alguma forma.

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Ter uma doença mental não significa que você é retardado, ou louco, mas sim que você é humano. E como humano, temos que lutar para uma melhora significativa. O transtorno de personalidade Borderline é como se fosse o meio. Se a doença avançar, pode resultar em psicose ou neurose. Lembrando que não há cura conhecida, o melhor a ser feito é encontrar um psiquiatra adequado para você e ter um acompanhamento terapêutico.

Eu fui diagnosticada com Borderline em 2012, depois de um ano e meio de tratamento com a minha terapeuta. E o que mudou depois desse diagnostico? Bem, nada. Depois que sabemos o nome dos nossos demônios, é até mais fácil, porque podemos nos armar para lutarmos contra eles.

Em quê o Borderline afetou a sua vida? Bom, primeiro no meu rendimento escolar. Quando eu comecei a me cortar (2011) não consegui mais estudar. Uma depressão silenciosa começou a se aproximar e eu não conseguia fazer mais nada. Como eu já disse, eu chorava quando acordava e via que estava viva de novo, e tinha que levantar e ir para a escola. Então eu repeti de ano. No ano passado (2012) foi o ano mais conturbado da minha vida. Com mais crises, mais lágrimas, mais gritos. Quando se tem uma vida assim, é impossível estudar. Sem falar que a minha depressão estava tão forte, que eu nem me sentia tristeEu não sentia nada. Absolutamente nada. Não tinha forças ou fôlego para fazer nada. Tudo me cansava. Sendo assim, repeti novamente. E agora, como estou medicada, já consigo respirar fundo e estudar. E confesso, é muito constrangedor para mim dizer tudo isso. É constrangedor ter quase dezessete anos e estar estudando com crianças de quatorze. Eu fico muito triste ao ver aquelas brincadeiras estúpidas e infantis, e perceber onde eu estou, e onde eu poderia estar. Eu deveria fazer vestibular esse ano, mas, devido à tudo que aconteceu comigo, não vai ser possível. Não é fácil. Não é fácil tentar ser forte novamente, quando as pessoas da sala ficam fazendo gracinha e piadinhas. E quando eu ergo a voz e respondo, eu sinto um temor tão grande, que vocês nem imaginam. E quando alguém me responde, eu tenho que controlar o meu medo, e principalmente, a minha raiva e agressividade.

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Se vocês estiverem interessadas em mais informações, recomendo que leiam o livro da Dra. Ana Beatriz Barros sobre a personalidade Borderline, Corações Descontrolados. E também vejam o filme Garota, Interrompida, que trata-se de uma Borderline em tratamento. Se algum ponto da minha história (Bullying, automutilação, anorexia, depressão…) tenha te tocado, e você queira entrar em contato comigo, é só mandar um email para: anavitoriafelice@gmail.comIsso vale também para aqueles que se identificaram e querem ajuda.

Bom, não vou me prolongar mais. Espero que de alguma forma, esse post tenha sido útil para algum de vocês. E espero que tenham, antes de tudo, respeito à mim e a minha história.

Obrigada por terem tido a paciência de ler até aqui. Até mais e stay strong <3